17 de julho de 2019

O Sr. Francisco Vahldieck

Um dos principais corredores de serviço do bairro Fortaleza, a Rua Francisco Vahldieck é um marco histórico para esta região.

Um dos principais corredores de serviço do bairro Fortaleza, a Rua Francisco Vahldieck é um marco histórico para esta região. Aberta em 1919, a rua que impulsionou o crescimento do bairro destaca-se pela predominância das casas de comércio, muitas delas existentes há mais de 50 anos.

             Com cerca de quatro quilômetros de extensão, a via tem início no final da Rua 25 de Julho e da Rua 4 de fevereiro, ainda na Itoupava Norte, corta toda a extensão do bairro Fortaleza, passa pela BR 470 onde hoje existe um viaduto no local conhecido como trevo da Dudalina, e a parir dai o bairro passa a denominar-se Fortaleza Alta, mas a Rua Francisco Vahldieck termina somente nos limites do município, entre Blumenau e Gaspar

 A história da rua se confunde com a de seu fundador, o comerciante e líder comunitário Francisco Vahldieck, que morou ali com toda a família em uma casa que ainda hoje permanece no número 1666 da rua, embora a casa tenha sido restaurada e sua fachada bastante modificada.

            A filha de Francisco Vahldieck, Kaethe Hutzelmann, em uma entrevista concedida ao Jornal de Santa Catarina em 1997, aos 86 anos, relembrou de várias histórias contadas pelo pai ou mesmo presenciadas por ela. Segundo Kaethe, a rua foi aberta pelo pai e por mais dois homens no ano de 1919, a golpes de machados e enxadões. O curso inicial da via partia da Rua Fritz Koegler passava pelo morro da Goiaba e chegava ao bairro Itoupava Norte. “Eu mesma fazia uma longa caminhada para levar a comida até eles”, contou Kaethe na oportunidade.

Bairro Fortaleza no final da década 50, ao fundo a Rua Francisco Vahldieck e no primeiro plano a rua de acesso ao engenho, mais tarde foi aberta e hoje é conhecida como Rua do Engenho.

            Revisando estes textos, em uma conversa informal, o Sr. Manfred Hutzelman, filho de Kaethe, (O “mani” como é conhecido e muito colaborou com esta matéria, fornecendo inclusive as fotos antigas) lembrou que sua mãe sempre comentava um fato pitoresco: Em uma destas longas caminhadas para levar a comida, encontrou pelo caminho uma enorme cobra Jararacuçu com mais de dois metros de comprimento, como Kaethe era criança na época, jamais se esqueceu do susto que levou.

            Por volta de 1924, Francisco Vahldieck conseguiu trazer a energia elétrica até a localidade, arcando ele próprio com as despesas, por considerar a luz elétrica de extrema necessidade para os moradores. A rua era de chão batido, sendo calçada apenas em 1982. Nascida em 1911, Kaethe também se lembra das histórias contadas pelos pais sobre as enchentes ocorridas no ano de seu nascimento, que teriam chegado até a casa onde moravam. “Com isso pode-se concluir que esta enchente foi muito maior do que as ocorridas em 1983 e 1984”.


 

Na foto acima temos um panorama da Fortaleza na enchente de 1957. Ao fundo as casas da Rua que na época era chamada estrada geral da Fortaleza, hoje Francisco Vahldieck. Em primeiro plano vemos uma parte do Engenho e a Serraria.

            Francisco Vahldieck nasceu em Blumenau no dia 23 de setembro de 1876. Iniciou a vida profissional como marceneiro, mas logo tornou-se  proprietário de uma madeireira e um engenho no bairro, onde produzia e comercializava açúcar, cachaça e gêneros alimentícios em geral. A outra filha do casal, Cecília Keller, relembrou na mesma entrevista concedida em 1997, que a principal obra do pai como madeireiro foi à construção da casa Husadel, uma tradicional casa de comércio da cidade.

Maria Dierschnabel, esposa.

                    Ela também revelou fatos engraçados do namoro do pai com a então futura esposa, Maria Dierschnabel, com quem teve nove filhos e onze netos. “Quando ele conheceu minha mãe, ela ainda trabalhava no Comércio Federsen, que ficava do outro lado da cidade”, lembra, recordando as histórias contadas pelos seus pais. Como naquela época não existiam pontes que ligassem as duas regiões, para vê-la ele tinha que atravessar o Rio Itajaí-Açu de balsa. “Mas quando a balsa não funcionava, meu pai atravessava o rio a nado”, nos confidenciou Cecília na época da entrevista.

            Um dos principais líderes do bairro Fortaleza, o Sr. Francisco Vahldieck faleceu no dia 13 de maio de 1952, aos 75 anos de idade. Cabe aqui nossa sincera homenagem a este ilustre cidadão blumenauense.

Acima uma foto do final da década 50, no cruzamento onde hoje é a Francisco Vahldieck com o Final da Hermann Tribess e o início da Samuel Morse. Na imagem a esquerda aparece o antigo salão fortaleza, construção ainda hoje existente. (Vavá Faróis)

Foto da enchente de 57 em outro ângulo e temos abaixo a direita a atiga e conhecida “casa amarela” propriedade dos Hutzelman.

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