12 de março de 2020

100 anos de pacificação

O dia 22 de setembro de 2014 marcou 100 anos do primeiro encontro pacífico entre brancos colonizadores e índios.

O dia 22 de setembro de 2014 marcou 100 anos do primeiro encontro pacífico entre brancos colonizadores e índios, na localidade de Platte, hoje em José Boiteux. Coube aos índios botocudos, que atuavam principalmente nas terras de Hammonia e ao jovem Eduardo de Lima e Silva Hoerhan, a iniciativa do contato.

             Sabe-se que deste primeiro encontro ocorreu uma enorme transformação em todos os sentidos tanto para os brancos como para os índios. A história é longa e não pode ser aqui narrada. Evidencia-se que, após o primeiro contato pacífico, a maior ruptura nas tradições, cultura e língua, coube aos indígenas. Vale salientar que enquanto a nação botocuda perdia sua identidade, os colonizadores ganhavam em tranquilidade e progresso.

             Por este motivo, não se fala em comemorar o centenário da pacificação, pois não há motivo para comemoração. Talvez seja prudente usar os termos “lembrar ou relembrar” a data; que seja, pois, lembrar para refletir sobre a questão indígena centenária, à procura de soluções, respeito e dignidade para com os irmãos da Terra Indígena Ibirama. Mas o que eles, os índios, pensam sobre isso. Como os índios veem a data dentro de seu contexto histórico?

             O desabafo de Edu Priprá, vice-presidente da Associação Indígena, da aldeia Barragem, em entrevista recente, talvez reflita o sentimento da grande comunidade TI Ibirama: “O branco tem como festival de lembrança, mas é a marca do sofrimento que passaram estes índios. Devia ser o dia do choro para toda a população”.

                Como não é possível retroceder na história e como não é possível apagar o que já foi feito, faz-se necessário procurar um entendimento “macro”, mais justo e mais nobre, para que índios e brancos tenham uma convivência de cunho pacífico de sentido nobre, visto que o termo “pacificação” tem um leque de conceitos e entendimentos. Cita-se excerto do livro “A sétima caverna”, de autoria deste autor, para confirmar o exposto: “Embora todos falassem que os índios foram pacificados, papai e Criendiu não concordavam com este posicionamento. É correto afirmar que os índios foram aldeados porque ninguém pacificou ninguém. Gente não pacifica gente. Gente respeita gente. Só”.

             Muitas atividades e projetos sobre a questão indígena, foram executados em 2014 ou estão em andamento. O que se espera é que aproximem com mais intensidade índios e brancos, que a história do primeiro contato se transforme em contato permanente em ações legítimas para todas as etnias envolvidas, mas que sejam, principalmente, contatos de paz e amor na consciência de todos os habitantes desta Terra da Fartura.

          Os indígenas também não apareceram mais com tanta frequência. Vencidos os dois principais obstáculos, a malária e os índios, os novos imigrantes, somados aos que permaneceram, retomaram a colonização de Neu-Zürich.  As boas colheitas de 1910 e 1911 foram os fatores primordiais da retomada do crescimento. A vida dos colonos transformou-se em uma tranquilidade sem precedentes. Não se acreditava em uma nova tragédia ou fatalidade. Os tempos pareciam ser outros. Acreditava-se até que foi precipitada a saída de tantas famílias.

             Todavia, mais uma vez, a esperança e o bom ânimo foram abalados. De 28 de outubro até 1º de novembro de 1911, choveu torrencialmente sem parar e em consequência do fenômeno ocorreu a maior enchente de todos os tempos em Hammonia e no Vale do Itajaí. Ainda nos dias de hoje, a enchente é relembrada e comentada. Em Blumenau, o nível das águas chegou a 16,60 metros. Todas as localidades de Neu-Zürich foram duramente atingidas.

             As plantações, as estradas, as pontes e os pontilhões foram destruídos.  Atílio Zonta se expressou dessa maneira, ao tratar da grande enchente: “Nos idos de 1911, toda a região do Vale do Itajaí-Açu foi prejudicada, mais uma vez, idêntica da que ocorrera na década de 1880. As águas do Itajaí transbordaram, invadindo e destruindo com sua violência, casas, ranchos e currais, devastando lavouras e levando quase à ruína e à desolação centenas de famílias”. O pânico, como era natural, dominou os colonos que os fizera abandonarem suas casas. A enchente da qual ainda hoje se fala, foi uma enchente jamais vista novamente no Vale do Itajaí. Após a enchente, ocorreu uma praga de lagartas que, para o desconsolo de todos, destruiu o que havia sobrado da invasão das águas.

             Depois da chegada dos novos colonos, da diminuição da malária e dos ataques dos índios, realmente a situação melhorou. Surgiu a partir de então a necessidade da formação de um centro urbano. Wilhelm Goebel instalou uma casa de comércio e para honrar seus compromissos com os fornecedores, transformou suas terras em lotes urbanos. O mesmo procedimento tomou o colono Rickmann e outros que possuíam terras na região onde hoje é o centro da cidade. O comércio de Wilhelm Goebel era localizado nas imediações onde hoje se encontra a Pousada e Restaurante Vale das Cachoeiras.

 

 

 

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