05 de dezembro de 2019

A balsa de Lontras e uma grande tragédia

A parte final do local onde hoje é conhecido como rua da balsa, guarda certo ar de tristeza e abandono.

A parte final do local onde hoje é conhecido como rua da balsa, guarda certo ar de tristeza e abandono. No passado este mesmo local já foi bem movimentado, pois era por ali que se realizavam as travessias no Rio Itajaí Açu de pessoas, veículos e mercadorias, através de uma balsa, antes da construção da ponte de concreto na SC 110. Infelizmente este local também foi palco de uma tragédia assustadora.

Para narrar esta triste história, contamos com a gentil colaboração da Sra. Waltraud Hager de Souza, a Dona Traude, como é conhecida esta moradora do bairro Riachuelo, e também do Sr. Hildon Kuhl, ex-prefeito de Lontras, que nos atendeu prontamente em sua residência. 
Traude - “Era uma bela tarde de sol, um sábado, no dia 13 de Setembro de 1969, tinhamos um time de vôlei feminino e outro masculino, que jogava na comunidade evangélica da juventude.  Naquele dia, fomos disputar com o pessoal da comunidade de Agrolândia. Na época era comum participarmos de atividades esportivas em outras comunidades.  Nos encontramos na praça, no centro de Lontras e saímos daqui logo depois do meio dia.”

O Sr. Hildon nos confirma: “Os rapazes eram seis:  Gutran Bleich, o Evelário, Valdir,  eu (Hildon) e mais dois outros que não me recordo..., fomos em seis no carro do Gutran. As meninas  eram sete, a Dolores, Sibili, Waltraud, Dagmar, Ruth, Ivonete e Invelde.
Traude - “Havia um pastor da comunidade evangélica, que nos levou em sua rural, era um carro muito espaçoso na época. As moças que formavam o time feminino  foram todas com o pastor neste carro e  os rapazes, que formavam o time masculino  foram no outro carro. Na volta nós queríamos vir pelo mesmo caminho da ida (estrada da madeira), pois na época ainda estavam construindo a BR 470. Os rapazes foram por ali, mas o pastor insistiu que queria vir pela nova estrada, que embora não estivesse concluída, era possível passar por ela. Saímos de Agrolândia ainda era dia e no caminho foi anoitecendo. Chegamos por aqui  era escuro, devia passar das sete horas da noite. Eu sempre fui muito medrosa, tinha medo de passar na balsa do centro de Lontras, pois achava ela perigosa, ainda mais a noite, então sugeri fazermos a travessia no Salto Pilão, pois ali era mais seguro,  a balsa era maior e tinha um balseiro experiente, mas o pastor disse não, que era para passar naquele local, pois ele já havia atravessado muitas vezes por ali.”
Hildon - “Nós viemos por dentro e chegamos antes (rapazes). Sentamos no bar do seu Cândido (onde hoje é a Berlanda) e começamos a tomar uma cerveja. Meia hora depois surgiu um alarde, corremos para o rio para ver o que havia acontecido.”
Traude - “Ao chegarmos ao ponto de passagem, na margem esquerda, o Pastor colocou o carro na balsa, saiu do carro e foi ajudar o balseiro na travessia, e nós estávamos todas dentro do carro. A balsa ergueu atrás e baixou na frente, o carro se movimentou  e rolou para dentro do rio. No que tentei sair, senti que a porta não abria mais. (A Sibili e a Dolores, que também estavam no banco da frente, haviam conseguido sair) Eu empurrava a porta, empurrava e quando eu vi, eu estava com a água por “aqui” (no pescoço). Eu perdi os sentidos, não lembro de mais de nada. Afundei junto com o carro, presa na porta... De repente, eu subi.” 
Traude - “Creio que a porta me soltou quando o carro encheu de água. Aonde é torre da casan hoje em dia, em cima, tinha uma luz muito forte, e eu vi aquela luz, lá do meio do rio. Estava tudo escuro e eu só lembro de ver o reflexo daquela luz. Eu estava um pouco longe dela, e a balsa estava logo atrás. Na hora eu não estava ciente que tinha afundado o carro, a Sibili e a Dolores, já em cima da balsa, me estenderam um pedaço de madeira e me puxaram para a balsa. Quando cheguei em cima da balsa, foi aquele desespero, não vimos mais as outras quatro moças que estavam com a gente no carro. 
Hildon - “Diante daquele cenário terrível, não tinhamos muito o que fazer, o local era fundo, de noite, o desespero era muito grande. Lá em baixo no Riachuelo, tinha um Cunha que era mergulhador. Nós buscamos ele, mas já era tarde...
Para finalizar a narrativa desta ocorrência, consultamos uma pessoa bem conhecida na cidade, o Cabo Leonardo, que na época fez os registros pela polícia.
 “Eles tiraram os corpos no mesmo dia, duas ou três  horas depois, mais ou menos. Alguém mergulhou, prendeu um cabo no veículo que estava submerso e ele foi içado, trazendo os corpos das meninas que estavam no banco de trás, todas juntas e sem vida...”
Faleceram em 13 de setembro de 1969, neste triste episódio, as jovens Ivonete e Invelde Baade, Ruth Knop e Dagmar Carturano, todas em uma faixa etária entre 18 e 19 anos.
 

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