23 de outubro de 2019

O TÚNEL DESMORONADO DE ATAFONA – LONTRAS

Texto baseado no depoimento do Sr. José Fernando Damásio, “seu Roberto”, que na época estava com 10 anos e morava perto do ocorrido.

    Durante a década de 20 do século passado avançavam as obras de abertura do leito ferroviário da EFSC objetivando chegar com os trilhos a Lontras e Rio do Sul. As obras até Lontras demoraram cerca de seis anos, prejudicadas pelos obstáculos naturais das encostas da Serra do Mar e pelas intempéries climáticas, porém, muito mais pela constante falta de verbas, num País em crise política, o que culminou mais tarde com a Revolução de 30.
    Objetivando  alcançar Lontras  a  qualquer custo, visto que a ferrovia era um objetivo político  dos irmãos Marcos e Victor Konder, o primeiro governador de Santa Catarina e o segundo Ministro de Obras e Viação, na época, estes decidiram suprimir várias obras consideradas mais caras, para que as  verbas fossem suficientes para concluir o trajeto.
    Assim sendo, em 1929,  o trajeto Subida – Estação Victor Konder (Riachuelo) pode ser  aberto ao tráfego provisório. Naquele trajeto de 20 kms, quatro  túneis foram previstos para serem construídos, porém, apenas o túnel de subida, de 68 mts e o túnel de Riachuelo de 110 mts foram concluídos. Os outros dois foram suprimidos por falta de recursos e aguardariam por dias melhores e  mais fartos. 
        Estes dias melhores e fartos começaram a  aparecer por volta do final da década de 40. O município de Blumenau, sede da ferrovia, comemoraria 100 anos em 1950 e o Governo Federal prometera presentear o município com recursos  especiais. A EFSC foi uma das entidades que receberam recursos, objetivando  concluir o  trecho Blumenau – Itajaí e  a  retificação de trechos problemáticos.  UM DESTES PONTOS ERA A CURVA FECHADA  QUE HAVIA NA LOCALIDADE DE ATAFONA, (foto montagem acima) onde deveria ser providenciado a  construção de um túnel .
    Ao final da década de 40, por volta de 1948, iniciou-se a  construção de  dois túneis, o de Morro Pelado, que teria 250  mts e  o túnel de Atafona, previsto para ter 160 mts. As obras do túnel de Morro Pelado correram a contento e o mesmo pode ser inaugurado  em 13 de novembro de 1954.
    No entanto, no túnel de Atafona, por volta de 1952,  os operários enfrentavam a  extrema fragilidade do terreno e num dia foram  surpreendidos com  o desmoronamento completo da abobada. Ficaram ali soterrados  seis operários e várias  tombeiras (vagonetes basculantes).
    Um sétimo operário dos que estavam em serviço neste momento sobreviveu por pura sorte: fora buscar água no rio, e quando voltou, nada mais  encontrou a não   ser uma montanha de entulhos a  obstruir o acesso ao local das escavações.
    Conforme depoimento de  moradores das redondezas do ocorrido, devido a extrema fragilidade do  terreno, recomendava  que se evitasse a  retirada dos entulhos para o resgate dos corpos, no sentido de evitar  outras mortes.
    
    Tomou-se então uma decisão drástica: os mortos ficariam onde  estavam e um padre deveria ali comparecer de tempos em tempos para apaziguar as pobres almas  ali soterradas.
    E assim foi feito, até o passar dos  anos  e tudo ser esquecido. Conforme o maquinista José Pacheco, ao passar  pelo túnel da Atafona, sempre  tirava o quepe da cabeça em respeito aos mortos ali soterrados.

    Texto baseado no depoimento do Sr. José Fernando Damásio, “seu Roberto”, que na época estava    com  10 anos e morava perto do ocorrido.

    Agradedimentos especiais ao Sr. Luiz Carlos Henkels pelo texto e Marcelo Frotscher pelas informações e imagens.

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