11 de outubro de 2019

Colonizadores Heróicos

    O processo histórico da colonização e desenvolvimento de Lontras e de toda a região do alto vale é muito interessante. Muito há que se contar sobre a história de uma gente que se embrenhou na Mata Atlântica e venceu as dificuldades impostas.

    O processo histórico da colonização e desenvolvimento de Lontras e de toda a região do alto vale é muito interessante. Muito há que se contar sobre a história de uma gente que se embrenhou na Mata Atlântica e venceu as dificuldades impostas.
    Esta região foi colonizada na tentativa de integração das povoações do litoral com os núcleos populacionais da região serrana. Toda a política imigratória do Vale do Itajaí foi realizada com esta finalidade, tornando Blumenau importante centro nas áreas de colonização.
    Entre as duas áreas colonizadoras, os índios Xokleng alimentavam-se com recursos da natureza. Fortes e destemidos defendiam-se com arcos e flechas, tentando impedir o avanço dos colonizadores sobre este território.
     O Rio Itajaí-Açu desempenhou papel fundamental na fixação dos colonizadores na região do Alto Vale do Itajaí. O núcleo populacional que se formou às margens do rio chamava-se Braço do Sul. Em 1912, o local passou a chamar-se Bella Alliança. Mais Tarde tornou-se um distrito de Blumenau e em abril de 1931, por ocasião de sua emancipação política passou a denominar-se Rio do Sul.

   O Povoamento

    Lontras era uma localidade entre estas terras isoladas e distantes de Blumenau, os tropeiros que se arriscaram pelas picadas construídas em 1878 pelo Engenheiro Emil Odebrecht, para ligar a Colônia Blumenau a Lages, enfrentavam todo tipo de dificuldade com as condições precárias do trecho, além da hostilidade indígena.
    Correntes de povoamento passaram a procurar o Alto Vale do Itajaí, formadas por descendentes da colônia de Blumenau que encontravam dificuldades para manter-se próximos dos seus pais, devido ao alto preço das terras. 
    Diante deste importante fato, e também devido a fortes incentivos para realizar o povoamento desta região, vieram para estas bandas os colonos dispostos a enfrentar todas as dificuldades do meio ambiente, num isolamento quase total, devido às dificuldades de comunicação.
    Em 1892 estava chegando até Lontras (Ribeirão das Lontras) o traçado da futura linha telegráfica em direção a Lages. Da turma de trabalhadores que executavam esta obra, faziam parte Rudolf Danker e Theodoro Spiesen, ligados a turma do Engenheiro Frederico Horn.
    Conforme matéria especial publicada no Jornal “Nova Era” de Rio do Sul (sem data) Rudolf Danker é reconhecidamente o primeiro morador de Lontras a adquirir por aqui o seu lote de terras.
    Segundo algumas pesquisas e relatos de familiares, Rudolf, que veio a se casar com Wiebke Holling e constituíram família, construiu a primeira casa de alvenaria de Lontras, mais ou menos em frente onde hoje é a cervejaria Holzweg.
    A casa foi toda construída com tijolos fabricados por eles mesmos, em formas feitas de madeira, já que na época ainda não haviam olarias por estas bandas. As pessoas que aparecem na foto maior, da página anterior, são Rudolfo Danker, esposa e seus filhos.(A foto da casa, na página anterior, e os relatos da construção nos foram gentilmente cedidos pelo Sr. Nilson Danker, descendente do Sr. Rudolf Danker. A ele o nosso muito obrigado).

Testemunha Ocular

    Em entrevista recente com a Sra. Irmgard Wolf Koth, mais conhecida como “Dona Nute”, moradora na comunidade de Riachuelo, descendente da família Danker, muito nos ajudou com relatos e informações importantes sobre a história e o desenvolvimento de Lontras. (A ela nossa homemagem e sincero agradecimento).
    Pertence a ela a bela casa que ilustra a capa do guia, casa esta que foi construída pelo seu pai, o Sr. Geraldo Wolf, que foi casado com Rosa Danker Wolf, filha de Rudolf Danker. Inclusive, nos relata a Dona Nute, o Sr. Rudolf Danker, já em sua jornada final e viúvo, chegou a morar nesta casa, acolhido pela filha Rosa, para passar seus últimos anos de vida com um pouco mais de atenção e carinho.
    Dona Nute nos conta que, segundo os relatos de seu avô materno, Rudolf Danker, antes da família fazer aquela grande casa de tijolos da foto da página anterior, o Sr. Rudolf e seus irmãos haviam construído uma outra casa, nos primeiros anos, assim que chegaram a Lontras (Acreditamos que seja logo depois de 1892). Casa esta bem mais simples, construída com barro, palha e madeira. (Bem mais parecida com esta rústica casa ao lado). 
    Segundo ela ainda nos relata, seus avós contavam que os índios vinham de noite e puxavam as palhas nas frestas das paredes e faziam barulho, para amedrontar os moradores e avisar que estavam ali por perto.
    Outra passagem interessante relatada por seus avós, foi a primeira experiência com as enchentes (1911). Para não perder o gado que tinham, abrigavam os animais dentro de casa, para que eles não fossem levados pela força das águas. 
    A casa no estilo germânico em Riachuelo que ilustra nossa capa, foi construída em 1926 pelo casal Geraldo Wolf e Rosa Danker Wolf (pais da Dona Nute), antes disto, logos após se casarem, eles moravam em uma casa mais simples, de madeira que ficava no mesmo terreno, nos fundos.
    Encerrando seus relatos, mas com muito ânimo e satisfação por gostar de nos contar estes momentos de sua vida, Dona Nute registra ainda fatos relevantes, muito vivos em sua memória, como a chegada da luz elétrica na casa. Todos ficaram muitos felizes, pulavam e dançavam de satisfação. Lembra também da inauguração da estrada de ferro e a chegada do trem, onde todos foram muito bem trajados receber o trem, as mulheres com seus vestidos compridos e os homens de terno.
    Para terminar, nos contou da perseguição e os abusos decorrentes da Campanha de Nacionalização, no período da 2ª guerra, pois eles eram proibidos de fazer uso do idioma alemão, relatando as humilhações sofridas.

    Cabe aqui um adendo, extraído e resumido do livro “Cartas de Família” de Rolf e Renate S. Odebrecht, que chamarei de “A Injusta Repressão”.
    Em toda esta região a língua alemã predominou entre os habitantes até a década de 1920. Até os jornais da época eram totalmente escritos em alemão, sendo que o uso da linguagem só veio a declinar no final da década de 30 e 40, época em que a onda de “nacionalização” reprimiu o uso do idioma alemão, e também o do idioma italiano.
    Os imigrantes e seus descendentes sofreram humilhações e discriminações durante longas décadas por não se expressarem corretamente em português. Usou-se a palavra “colono” no sentido pejorativo de caipira, atrasado, desajeitado. Sofreram humilhações sem conta pelo uso incorreto da língua portuguesa. 
    O Brasil, único país sul-americano a enviar soldados e equipamentos ao front de guerra, tornou-se, para infelicidade dos descendentes dos imigrantes inimigo dos países de onde havia vindo a maior parte deles.
    Quando foi para se arriscar na mata, vencer todo tipo de dificuldades, o isolamento, enchentes, doenças tropicais, animais selvagens,   ataques indígenas entre outras, os imigrantes eram úteis, mas depois que a região estava mais “desenvolvida” eles eram presos, humilhados e reprimidos por “falar em alemão”.

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